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Crude: volatilidade persistente e os desafios da Europa

À medida que entramos no segundo semestre de 2025, o mercado do petróleo continua a refletir a tensão entre forças económicas, estratégicas e geopolíticas. Se, por um lado, a transição energética nos países desenvolvidos avança a ritmo desigual, por outro, a procura por petróleo mantém-se robusta — sustentada, sobretudo, por economias emergentes como a China e a Índia. Para a Europa, profundamente exposta à volatilidade energética e aos riscos externos, este cenário exige uma leitura atenta e uma resposta coordenada.

Segundo o mais recente relatório da Agência Internacional de Energia (IEA), a procura global deverá atingir os 104,4 milhões de barris por dia (mbd) em 2026, crescendo apenas 740 mil barris este ano. Esta desaceleração prende-se com o abrandamento económico nos países da OCDE e com o impacto crescente das políticas de descarbonização. Ainda assim, a substituição total do petróleo está longe de se concretizar: o crude continua a alimentar a indústria pesada, o transporte marítimo e aéreo, e a economia global.

Do lado da oferta, o equilíbrio é igualmente frágil. A OPEP+ retomou o aumento da produção, com destaque para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Desde Abril, a organização já acrescentou 2,2 milhões de barris por dia ao mercado, com mais 548 mil anunciados para Agosto. Em paralelo, a Rússia mantém uma presença ativa no mercado global através de rotas alternativas e da chamada “shadow fleet”, apesar das sanções ocidentais que continuam a limitar formalmente as suas exportações.

Em 2025, a oferta global deverá crescer cerca de 1,6 milhões de barris por dia, criando um excedente face à procura. A tendência deverá acentuar-se até ao final da década: enquanto a procura estabiliza perto dos 105–106 mbd, a capacidade instalada poderá ultrapassar os 114 mbd. Este desfasamento estrutural poderá manter os preços sob pressão, a menos que ocorram cortes coordenados pela OPEP ou perturbações graves no abastecimento.

E os riscos geopolíticos continuam bem presentes. Os ataques entre Israel e o Irão em Junho, com ameaças de bloqueio do Estreito de Ormuz — por onde passa cerca de 20% da oferta global — provocaram uma subida de 20% no Brent. No Iraque, drones interromperam a produção na região do Curdistão. Estes choques, combinados com os efeitos persistentes da guerra na Ucrânia e as sanções à Rússia, alimentam a volatilidade e expõem a fragilidade da cadeia logística global.

Atualmente, o Brent oscila entre os 66 e 72 dólares por barril. Um valor ainda abaixo da média histórica recente, mas susceptível a mudanças abruptas caso surja nova escalada nos conflitos ou cortes imprevistos na oferta.

Para a Europa, esta imprevisibilidade é particularmente delicada: apesar da redução da dependência energética da Rússia, a região permanece vulnerável a picos de preço e disrupções externas, com impacto direto nos custos industriais, na inflação e no orçamento das famílias.

Portugal não é excepção. Embora a diversificação de fontes e a crescente aposta nas energias renováveis tenham atenuado parte dos riscos, o crude continua a ter um peso significativo na fatura energética nacional. Uma subida abrupta dos preços pode comprometer a trajetória de recuperação económica, alimentar pressões inflacionistas e condicionar as decisões de política monetária e orçamental.

O petróleo está longe de desaparecer do centro do debate económico. Em 2025, permanece como fonte essencial de energia, motor da geopolítica e variável crítica na estabilidade financeira global. Mas a sua trajetória futura dependerá menos da procura e mais da capacidade das grandes potências produtoras de evitarem excesso de oferta — e da Europa, da sua capacidade de acelerar a transição energética sem sacrificar a competitividade económica.